Primeira semana de COP26: Bolsonaro firma compromissos em prol do meio ambiente sob desconfiança e continua a envergonhar o Brasil

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A primeira semana da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP26), que acontece em Glasgow, na Escócia, foi marcada pela ausência e o isolamento do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em meio aos líderes mundiais presentes.

Bolsonaro disponibilizou um discurso gravado, e, diferente de outros líderes internacionais, não compareceu presencialmente ao maior evento de cobertura climática do mundo. Durante discurso em vídeo à COP26 na segunda-feira (1), Bolsonaro anunciou novas metas climáticas e afirmou que o Brasil “é parte da solução e não do problema” no enfrentamento às mudanças climáticas. 

A atitude vexatória do presidente repercutiu mundialmente e foi comentada pela porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos para a América Latina, Kristina Rosales, que concedeu uma entrevista à BBC News Brasil. Rosales intensificou as cobranças internacionais a respeito de medidas concretas do governo brasileiro em prol da defesa das pautas ambientais e ações a respeito das mudanças climáticas. “No caso de uma situação tão complicada como são as mudanças climáticas, se o país não vem para a conferência colocando objetivos sérios na mesa, vai ser obviamente muito ruim para o resto do planeta. É isso que estamos tentando ver como é que vai ser de fato”, declarou. Além de Bolsonaro, outra ausência importante no evento foi a do atual ministro do Meio Ambiente e chefe da delegação oficial, Joaquim Leite, que se reservou na cobertura da Cúpula nos estúdios da CNI em Brasília

A Conferência gerou momentos marcantes como o compromisso para salvar e recuperar florestas do planeta no segundo dia de evento. O acordo consiste numa longa lista de compromissos dos setores público e privado para o combate à mudança climática, freamento da destruição da biodiversidade, fome e proteção dos direitos dos povos indígenas. A respeito deste compromisso, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, anunciou que 110 países aderiram ao compromisso, o que representa 85% das florestas mundiais. Os países assinaram a Declaração dos Líderes de Glasgow sobre Florestas e Uso da Terra. O principal objetivo desta declaração é acabar com o desmatamento até 2030.  Johnson declarou que “proteger as florestas não é apenas uma ação para combater a mudança climática, mas também um ideal para um futuro mais próspero”. Em sua fala, o primeiro-ministro destacou que Brasil, China e Rússia estão entre os países que firmaram o acordo, e que isso também pode servir como uma oportunidade paralela para a criação de empregos. O presidente brasileiro Jair Bolsonaro e o presidente russo, Vladimir Putin, enviaram mensagens de vídeo apoiando a declaração, assim como outros líderes que não foram para a COP26.

Outra presença marcante foi dos povos indígenas. O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu que o compromisso seja de fato implementado, “para as pessoas e pelo planeta”. Neste compromisso firmado, os líderes mundiais prometem aumentar os esforços e práticas efetivas de conservação florestal e ecossistemas terrestres, acelerando sua recuperação e facilitando o comércio sustentável. O compromisso ainda reconhece o poder das comunidades locais, incluindo os povos indígenas, que são afetados de forma negativa pela exploração de degradação das florestas. A declaração ainda prevê a reestruturação de políticas agrícolas e de programas para reduzir a fome e beneficiar o meio ambiente. Os líderes prometem também facilitar o financiamento para reverter perdas e degradação florestal, acelerando a transição para o que eles chamam de “uma economia verde”.

O Brasil, ao assinar a Declaração dos Líderes de Glasgow sobre Florestas e Uso da Terra, aderiu ao compromisso de reduzir em 30% a emissão de gás metano e, por mais que essa tentativa de parecer mais polido diante do mundo parecesse uma boa ideia, o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, ouviu muitas reclamações da bancada ruralista que foi pega de surpresa. O desconforto se intensificou pelo fato de China, Rússia e Índia estarem dentro do compromisso.

A COP26 também trouxe foco ao fato de que na última década foi gasto quase 40 vezes mais dinheiro para práticas destrutivas do que para a proteção de florestas e agricultura sustentável. Assim, na Conferência, mais de 30 instituições financeiras se comprometeram em U$$8,7 trilhões de investimentos para reverter esse quadro. Posteriormente, Joe Biden, presidente dos EUA, anunciou que seu país se compromete em garantir a manutenção da biodiversidade, proteção das terras indígenas e redução do risco de doenças, além de apoiar a recuperação de mais de 200 milhões de hectares de florestas até 2030.

Apesar do governo brasileiro fazer um papel vergonhoso diante do mundo, a líder indígena brasileira Txai Suruí, do estado de Rondônia, fundadora do Movimento Juventude Indígena, fez um discurso potente a respeito das atitudes omissas dos líderes globais diante das mudanças climáticas. Txai ainda fez um apelo para que a ação climática seja feita agora e não em 2030 e nem em 2050. 

No final de semana, sábado (6), o Brasil foi lembrado novamente ao ganhar o antiprêmio Fóssil do Dia, pela rede Climate Action em Glasgow. Segundo a instituição, o país está entre os que mais prejudicaram as negociações climáticas na COP26 na Escócia. “Estão reclamando que eu não fui para Glasgow. Levaram uma índia para substituir o Raoni e atacar o Brasil. Alguém viu algum alemão atacando a energia fóssil da Alemanha? Ou a França? Ninguém critica o próprio país. Só aqui”, declarou Bolsonaro.

Apesar de ser a maior delegação da COP26, o Brasil segue fazendo rupturas institucionais com países que estão caminhando a favor do meio ambiente. A lista da comitiva oficial tem desde fotógrafos e bartenders, até primeiras-damas de estados. As ONG’S marcam presença, dentre elas Delegação dos indígenas brasileiros, Coalizão Negra por Direitos e o Instituto Clima e Sociedade, Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia e outros reunidos em um segundo stand brasileiro, apresentando propostas para a questão climática. A falta de diálogo do governo com a sociedade na COP26 levou o secretário executivo do Fórum Brasileiro de mudanças climáticas a se demitir da função. Oswaldo dos Santos Lucon, pediu demissão do cargo, alegando que não houve questões de impedimento sobre a execução de seu trabalho ou questões de competência. Lucon ainda criticou o evento e afirmou que a COP26 poderia ter sido melhor aproveitada. 

A COP26 vai até o dia 12 de novembro e ainda abordará diversos temas sobre as mudanças climáticas e atitudes concretas das lideranças mundiais em prol de reverter as catástrofes ambientais causadas pela ganância e descompromisso com o meio ambiente. A Ascema Nacional se mantém vigilante e cobrará os compromissos firmados pelos Brasil na Conferência, não somente do presidente atual e do ministro do Meio Ambiente, mas de todos aqueles que têm o papel fundamental de fiscalizar, monitorar, punir e denunciar as práticas irregulares que afetam o futuro do mundo inteiro.


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