O primeiro dia do encontro nacional dos servidores do meio ambiente, realizado pela ASCEMA Nacional e Condsef no fim de semana, foi marcado pelo tom de decepção e revolta com Governo Federal. A falta de diálogo, a irredutibilidade em relação às propostas e a multa pesada que seria aplicada caso os servidores continuassem em greve foram consideradas duros golpes contra os trabalhadores. “Os servidores foram tratados com desleixo e deboche pelo MGI”, lembrou André Oliveira, o Café, diretor da ASCEMA e presidente da Asibama-DF.
“A gente nunca foi prioridade”, comentou o dirigente, para quem os raros momentos de negociação foram provocados pela pressão da mobilização dos servidores, não por iniciativa voluntária do governo.
O presidente da ASCEMA Nacional, Cleberson Zavaski, o Binho, lembrou que a mobilização, mesmo sem dinheiro, ultrapassou fronteiras, atraindo mídia, personalidades e apoios institucionais. Entretanto, lamentou o ataque sofrido, com multas pesadas (R$200 mil por dia), o que, na prática, significa o tolhimento do direito à greve. “Pelo recurso que a gente dispõe na ASCEMA a gente tinha como fazer uma hora de greve. Nossa situação financeira é bastante difícil”, desabafou.
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Para Alexandre Gontijo, diretor adjunto da ASCEMA, ficou evidente que os termos do governo já estavam decididos, sendo o processo de negociação apenas uma formalidade, fato similar ao debate em relação à “contra reforma” administrativa. “Está sendo imposto com uma fachada de negociação, o que torna mais hipócrita ainda, minando sua base (do governo Lula). É como o pai que dá o controle do videogame desligado para o filho achar que está jogando”, comparou.
Na opinião do secretário-geral da Condsef, Sérgio Ronaldo, a estratégia do MGI foi dividir os servidores, para que as lutas fossem pulverizadas e assim fosse mais fácil garantir o poder nas negociações. “O governo jogou a isca e as entidades caíram, levando as negociações para as mesas setoriais. Nós fomos contra, a Condsef foi a que mais brigou para que isso não acontecesse. Se tivesse feito uma mobilização unificada, poderia ter sido muito melhor”, justificou.
Coordenadora nacional da Auditoria Cidadã da Dívida, Maria Lucia Fattorelli participou do evento, com uma fala que ecoou durante vários momentos do Encontro: “Não tem dinheiro porque o governo prioriza o sistema da dívida”, disse.
Mas além das questões externas, há questões internas que precisam ser melhoradas para potencializar a luta dos servidores. Vera Freitas, Presidente da Ascema São Paulo/Paraná, defende uma frente ampla de trabalhadores, que contemple técnicos e analistas. “Sem união, a gente não vai a lugar nenhum”, disse. Em sua opinião, isso passa pelos diferentes níveis se entenderem e também por melhorar o processo interno de comunicação.
De consenso geral entre os presentes, o que pode potencializar a luta e amplificar as possibilidades de ação, mobilização dos servidores e entrada de recursos é a filiação de novos associados. Para isso, um dos encaminhamentos considerados é a criação de uma campanha nacional de associação, a ser planejada nos próximos meses.